Uma TV brindou-nos ontem uma reportagem sobre o que mudou nas famílias portuguesas nos recentes anos. Impossibilidades biológicas, como "chamar pais a quatro pessoas" e ter "oito avós" apimentou a introdução ao jardim zoológico que se seguiu.
Pois era a deprimente "realidade" dos divórcios (muitos), "novos" casamentos das duas partes, novos filhos dos "novos" casamentos, meios irmãos (até os miúdos se baralhavam no parentesco), trocas e baldrocas multiplicadoras de pais, mães, avós, casas, férias, apelidos, etc. Mas ... dizia a reportagem "tudo em família" ... como no monstro Frankenstein digo eu.
Pelo meio pais sozinhos e filhos sozinhos. Depois os venturosos solitários que pintam corações para vender e saem à noite para uns copos com os amigos. Ainda os arrojados que conseguem o pleno de irem viver juntos para experimentar se podem ter sucesso ou não na "felicidade".
A inevitável socióloga meteu a sua sapiência: as pessoas da geração passada casavam mais para "obter estabilidade económica" as de agora elevaram o patamar e buscam a "felicidade". As do passado pareciam-me que tentavam com afinco um projecto de partilha total e felicidade a dois mas devo estar enganado. Agora casa-se para partilhar apenas a cama e os bens não são partilhados: ficam de lado para não ofuscar a "felicidade" e manter a "estabilidade económica" fora destes embrulhos.
A "felicidade" foi aliás o mote: a "felicidade" garimpa-se pois está aí algures. Mete-se o cesto no cascalho, vasculha-se e se não aparecer a "felicidade" tenta-se de novo num exercício solitário e autista: a felicidade não se cria e não se modela.
Uma educadora lia uma história a crianças ao seu redor: no meio um divórcio para preparar a nova geração para a busca da "felicidade".
As famílias com pai pai e mãe mãe que chegam à noite e lavam máquinas de roupa, secam, passam a ferro, cozinham, ajudam nos trabalhos de casa, aspiram, levam e trazem os filhos da escola ou das actividades, aspiram, passam esfregona, faltam para levar os filhos ao médico... nem sequer foram faladas: não é a busca da "felicidade".