abril 09, 2012

Páscoa

Sapatinhos de verniz e altura pequenita lembro-me da Missa de Aleluia. Na velhinha Igreja abriam-se as cortinas púrpura dos balcões e as tampas de uma caixa de madeira de onde escapam a esvoaçar pombas brancas.

A visita pascal era uma altura impecável para comer uns doces quase sem limite. Agora passa-se em casa do Pai onde aparecem os tios. A entrada em cena é sempre a mesma: comparam-se as ciáticas, os reumatismos, as idades e prometem-se curas mútuas a "banhos de terra fria" com os sorrisos algo amarelos. Comparam-se as alturas dos netos, as travessuras, elogia-se a elegância e tiram-se parecenças. Os putos ficam livres para correr no pátio.

Uma tia de afinidade faz as honras da casa. Tem um dom maravilhoso: qualquer assunto torna-se infindável em palavras. Relatou uma viagem completa de Toronto ao Porto: os lugares que prefere, a entrada no Atlântico, o tamanho do avião, o número de cadeiras, as voltas ao Porto à espera de vaga para aterrar, os barcos e o tamanho das casas vistas lá do alto.

Termina tudo -após debicar uns pedaços de frango, uns copitos, etc- com convites mútuos e desejos de voltar para o ano.  Notei a falta, pelo 2º ano, de uma tia bonacheirona que entretanto já partiu quando a vida lhe dava folga para cuidar dos netos.

Tudo bem quando tudo se repete!

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