março 14, 2016

Alentejo Profundo: o prazer de irritar a esquerda

O "Alentejo Profundo" é um livro bastante acessível: custa apenas 3.5 Euros e vale a pena adquiri-lo quanto mais não seja para irritar a esquerda e promover o Henrique. Mas não só, depois do prazer de irritar a  esquerda, o livro lê-se ainda em dois dias e com prazer e curiosidade. Vale bem o dinheiro.

Henrique Raposo mergulha no Alentejo ao redor de Santiago do Cacém e, por intermédio da própria família até ao bisavô e por outras pessoas, faz uma radiografia da sociedade alentejana. O livro está para a sociedade alentejana como a Casa dos Mortos de Dostoievski está para as personagens que ele descreve.

O Alentejo é terra de gente que se deixou aniquilar pela natureza agreste sem nunca a ter tentado mudar, as pessoas são desconfiadas mesmo entre família (a relação entre pais e filhos é difícil e distante depois de abandonarem a casa paterna e até essa altura é de subserviência), o calor humano escasseia, os homens são machistas, o associativismo é nulo, a cultura do sofrimento campeia e o suicídio é encarado com naturalidade. As ideias são semeadas com números comparativos com outras regiões, com obras de outros de outros autores e com alguma história.

As vezes que visitei o Alentejo servem para corroborar algumas das teses que li.

A sessão de Cante Alentejano, com que o autor foi homenageado, faz para mim agora mais sentido que nunca. A minha avó, que nunca ouvi cantar nem na missa, dizia:
Quem canta seus males espanta.


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