Via-o quando dava uma caminhada depois de almoço.
Era alto, magro, relativamente novo ainda e visivelmente doente. Vagaroso e macilento caminhava de forma arrastada e apoiado numa bengala. Debaixo de um braço um jornal dobrado era a companhia de sempre.
Por vezes parava e olhava, por cima dos óculos, em volta quase a 360º. Debicava umas palavras aqui e ali com quem conhecia.
Desapareceu no Inverno passado.
Voltei a vê-lo esta primavera: alto, magro, lento e macilento como me habituou. Desapareceu de novo mais tarde.
Num destes dias vislumbrei o seu rosto por entre duas idosas que se acotovelavam frente a um placard na parede. Era a fotografia dele no obituário.
As idosas comentavam com espanto outras fotografias:
- Olha morreu Fulana. Era da minha idade.
- Olha Sicrano. Já não o via há muito tempo: era mais novo que eu.
A partir de certa idade cada dia é uma pequena vitória, um pouco enaltecida pelos que partem primeiro, mas é apenas uma vitória de Pirro.
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