abril 25, 2011

As minhas recordações do 25 de Abril e sucedâneos

Era adolescente e vivia no meio de uma família bastante pobre. Ouvi vagamente a rendição de Marcelo Caetano.
  • A "Gaivota voava voava" e "Grandola Vila Morena" ouviam-se até exaustão.
  • Perdeu-se o respeito aos professores e todos eram corridos a fascistas e insultados.
  • Os militares do MFA faziam maravilhas com o Povo, expropriava-se, ocupava-se e havia auto-gestões por todo o lado. 
  • Apontavam-se uma série de pessoas como agentes da PIDE.
  • Houve passagens de ano administrativas.
  • Chegaram os retornados nas condições o mais precárias que se possam imaginar. 
  • Ouvi falar de droga pela primeira vez e dois colegas embarcaram neste flagelo.
  • O meu pai, imigrante pouco abonado, andava aterrado pela possibilidade de lhe ocuparem a casita que tinha construído com o que já tinha amealhado. Regressou forçado e preocupado com esta possibilidade.
  • Embora comprando na loja o mínimo a que se era obrigado -azeite, açúcar, etc- a falta e o aumento galopante do preço destes artigos levou a um maior racionamento em casa.
  • Faltava muita coisa -mesmo o cimento- e havia sempre debaixo de cada pedra um especulador a combater a revolução.
  • A TV passava o Capitão Kloss e os deprimentes desenhos animados da Roménia, Checoslováquia e outras nações quase desconhecidas promovidos por Vasco Granja.
  • Ocorriam os primeiros assaltos e as casas passaram a ficar fechadas.
  • Apareceu a cólera: doença que não conhecia.
  • Os salários recebiam-se com retroactivos até 10 ou mais meses e gastava-se à tripa forra. Eu andava ao sol a arrancar batatas, desfolhar milho, carregar palha, tratar de animais ... nesse ano e.....  em muitos mais que se seguiram.
Hoje vi celebrar o 25 de Abril com "heróis capitães" ligados a espancamentos, ameaças de fuzilamentos, mandatos em branco executados pela noite, terrorismo, violência, intimidação da arma encostada à cabeça e descolonização que causou centenas de milhares de mortos no Ultramar. Milhões de angolanos, moçambicanos vivem ainda em profunda miséria e sujeitos a regimes cleptocráticos que são os mesmos dos promovidos pela pressa propositada de "capitães de Abril" e sucedâneos políticos. Alguns mandam bitaites em associações outros recomendam dietas das quais precisam. 

Há muita coisa por contar!

Sem comentários: