junho 25, 2012

O melrito

Nos tempos de menino havia aves que agora deixei de avistar. Corriam os campos de milho já cortado para comerem os bichos do "canoilo": umas larvas brancas que devastavam o caule. Também cada vez vejo menos pêgos.

Uma ave que tem singrado é o melro. Passeiam no quintal virando folha a folha do chão ou surripiando um floco da ração do cão. Ontem ao sair de casa vi um melrito que devia ter-se aventurado fora do ninho: com as bordas do bico cor de tremoço não voava ainda. Tentei apanhá-lo para o livrar da boca do cão mas meteu-se nos arbustos e escapou. Quando regressei o pai melro fugiu precipitadamente de um canto do jardim: adivinhei e fui lá. O melrito estava de volta ao perigo. Consegui finalmente apanhá-lo debaixo do automóvel depois de uma curta perseguição.

O coração do juvenil batia forte e piava, o pai melro voava perto e piava também desesperado, a mãe juntou-se ao desespero. Gostava de entender as mensagens que trocavam. Larguei-o no terreno abandonado ao lado. Sublime estes instintos nos animais que parecem ter desaparecido no Homem.

1 comentário:

Anónimo disse...

O homem já mostrou ao longo da História que é o verdadeiro animal irracional.