Já sabia que Detroit estava falida e agora em ruína: um museu de indústrias deslocalizadas, casas abandonadas ou incendiadas e lojas de droga a cada esquina. Achei pouco usual não haver as habituais culpas ao capitalismo, ao Bush, ao lucro desenfreado, aos patrões e à América em geral.
Procurei e percebo agora o filme completo. Foram os seguintes factos:
- Sindicatos saquearam as empresas, nomeadamente a indústria automóvel, com salários muito acima da média das suas congéneres arrastando as empresas para a crise profunda e a falência;
- O emprego perdeu-se, as oportunidades foram-se e os mais decididos e capazes partiram para outras paragens agravando a crise;
- O flagelo da droga instalou-se e corrompeu o tecido social que mais agravou a fuga das pessoas à insegurança e criminalidade ;
- A cidade desde os anos 60 nunca mais elegeu um mayor republicano (é mais de 1/2 século de uma quase "ditadura" comparável à Andaluzia): foi um domínio absoluto dos "democratas";
- O discurso dos Mayores, quase todos corruptos e alguns ainda prestaram contas à Justiça, devem ter sucessivamente convencido os que ficaram com discursos de solidariedade social, ajudas, tolerância com a droga, tolerância com traficantes, desculpabilização dos consumidores e o habitual palavreado que já conhecemos;
- Os impostos foram sucessivamente aumentados para salvar as políticas dos Mayores o que ainda mais afastou o investimento.
Nesta espiral, a culpa não é só dos políticos: é também de um povo eleitor que ouve discursos de facilitismo, legislatura após de legislatura, sem se questionar sobre a realizabilidade das promessas. Não antecipa o desastre nem desmonta os sofismas que o marxismo dissimulado lhes incute travestido no sindicalismo de esquerda que mata as galinhas de ovos de ouro.
Lentamente cai-se numa apatia, indiferença e modorra que acaba em catástrofe: não se estranha e a coisa entranha-se.