abril 29, 2014

Uma história para meninos e meninas: o caso da galinha branca

... que eu não faço distinção de sexos ou de cores.

Era uma galinha muito simpática mas as companheiras do galinheiro não a amavam porque ela era branca e elas eram vermelhas: o amor, se alguma vez tinha existido, já tinha acabado. A pobre era picada sem misericórdia, tinha o costado em ferida e não encontrava recanto onde pudesse estar a salvo e ter uma vida feliz e realizada com direitos e garantias. A dona do galinheiro compadeceu-se e deu-me o infeliz bípede.

Agora tem um vasto quintal e companheiras que também não simpatizam com ela. Contudo tem muito espaço para onde fugir: sempre que necessita dá aos pedais. Já recuperou as penas do costado, está gordinha e não tem vergonha de anunciar com alarido os ovos que frequentemente põe.

Depois é uma galinha educada. Dou-lhe os restos de comida e não refila ao contrário dos fregueses aqui de casa que nos fazem sentir infelizes: "o esparguete overcooked", "a carne picada não leva chouriço", "tem sal a menos", "tem sal a mais", "falta pimenta", "a pimenta não presta", "o bife está mal passado", "o bife está demasiado grelhado", "a cebola não se corta assim", " o arroz não é agulha" e depois a sentença mais fatal  "não duravam um dia na cozinha do chefe Ramsey". Bandalhitos...

Aqui está ela feliz a tentar comer, depois de perceber as companheiras distraídas, e a fazer-me feliz também.

Vou tentar vender a história para substituir uma daquelas pinderiquices de telejornal. Ficará como "as galinhas depois de Abril".


1 comentário:

John Oliveira disse...

Penso que as galinhas encarnadas estão a exprimir a sua justa indignação pelos modos colonialistas das galinhas brancas, pelo abominável apartheid galináceo que outrora reinavam nos quintais. Provavelmente. Uma coisa eu sei: se a galinha é branca, é culpada! E vice-versa.

:-)

I.B.