CIA e FBI investigam razões do financiamento em 20% da campanha da Hilária por um governo de um país que viola de forma acintosa qualquer direito humano básico: liberdade de circulação, liberdade religiosa, igualdade entre sexos, igualdade perante a justiça e liberdade de orientação sexual.
1 comentário:
Mas estamos agora no "pós-verdade" pelo que se diz por aí.Por falar nisso: Pós-verdade? Chama-se esquerda
O espetáculo em redor da palavra “pós-verdade” chega a ser cómico. Anda tudo indignado com as narrativas de Trump, que são imunes à verdade. Mas deixem-me fazer uma pergunta: onde é que andaram nas últimas décadas? O pós-verdade tem sido o ofício da esquerda pós-moderna. Desde os anos 60, a pós-modernidade não tem feito outra coisa senão destruir o conceito de verdade através de um relativismo epistemológico, moral e cultural. O pós-verdade tem sido o ar que respiramos. O vento apenas mudou de direção. No desrespeito pela verdade, a direita de Trump é idêntica à esquerda pós-moderna que nos apascentou nas últimas décadas.
O relativismo epistemológico determinou que não existe verdade empírica, apenas narrativas. Nesta mundividência, a realidade perde a sua forma material, demográfica, económica, geográfica. Ficamos reduzidos a um mero verbalismo estético que desiste de percecionar a realidade que é comum a toda a gente; em vez disso, cria-se uma realidade privativa, a tal narrativa. Entre nós, é essa a essência dos socráticos: o que interessa é a narrativa e o apelo emocional das palavras, não a sua veracidade. É por isso que ainda dizem que a segurança social é sustentável. Quando alguém recorda que temos um rácio trabalhador/reformado de 1,4 e que temos uma taxa de natalidade de 1,2, os socráticos transformam estes factos insofismáveis em “narrativas neoliberais”. A outro nível, pelo Ocidente inteiro, as humanidades ou ciências sociais foram destruídas por este relativismo cognitivo que transforma a realidade numa mera extensão privada de quem escreve. É o inferno construtivista. É como se não existissem constrangimentos materiais à expressão linguística do livre arbítrio. Pior: é como se as palavras não tivessem significado material e moral. É por isso que Zizek analisa o cristianismo através dos ovos Kinder enquanto tenta desvalorizar as mortes do totalitarismo; brinca com a palavra “totalitarismo” como se não tivessem morrido milhões de pessoas no gulag.
Se há uma abolição da verdade empírica, também há a destruição da verdade enquanto conceito moral. Os socráticos ficam indignados quando alguém diz que José Sócrates teve comportamentos indecentes (receber dinheiro do amigo construtor, por exemplo); quando é a lei a indicar essa imoralidade, garantem que é uma cabala e transformam o ministério público numa pide de toga. A outro nível, pelo Ocidente inteiro, a destruição da verdade moral é a essência do politicamente correto ou do multiculturalismo. De forma reacionária, a esquerda multiculturalista diz que não existe uma moral transcendente por cima da história e das culturas; cada cultura é terminal e define por si só a sua verdade; não há direito natural, tudo é relativo. É por esta razão que não se pode criticar muçulmanos, negros ou ciganos a partir de um conceito universal de decência. Diz-se que esse conceito universal de decência é um tique racista. Portanto, se o pós-verdade tem sido este ganha-pão da esquerda, porque é que só acordaram agora? Do mal, o menos: este despertar é o princípio do fim do pós-modernismo.
Henrique Raposo no Expresso (17-12-2016)
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