
Contam-me os tios o que acontecia vai para 60 anos. Os falecidos numa aldeia próxima, mas ainda a 8km, tinham que ser sepultados na vila onde vivo.
O cortejo fúnebre, como todos estes cortejos, não era nada desejado e especialmente para aqueles que carregavam o caixão. Com o Padre à frente, o sacristão com a Cruz logo de seguida e todos os acompanhantes já desmotivados pelos altos e baixos do trajecto faziam-se algumas simplificações para facilitar a vida aos vivos.
O caixão, nas descidas, era posto a escorregar de forma controlada e o padre perdoava. O sacristão punha a Cruz no ombro tal como uma enxada e o padre repreendia:
- Não é assim que se deve levar a Cruz
O sacristão obedecia resignado mas vencido de novo pelo cansaço voltava a desobedecer.
- Não é assim que se deve levar a Cruz
Até que perdeu a paciência:
- Sr Padre cada um leva a sua Cruz como pode.
Remédio santo ... pois todos lhe damos razão de uma forma ou de outra. O Padre nunca mais o incomodou.
Feito o serviço era dado aos carregadores um pão de quilo e um litro de vinho. Com mais alguma coisa no bolso, suficiente para mais uns copos, só regressavam no dia seguinte.
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