A escola -ainda de pé, sem rachas e com o soalho original- não tinha aquecimento. O professor dava-nos 10 minutos para colocar as mãos pequeninas nos bolsos já que as sucessivas tentativas de acender a salamandra não davam resultado. A passarada malvada fazia ninhos na chaminé e a sala enchia-se de fumo.
O trabalho era árduo: contas, ditados e leitura. O recreio era uma alegria: ao ar livre, com poças de água e muito futebol. Todos nos levantávamos quando o professor entrava. Havia ordem na sala quando ele estava e desordem quando virava costas (ficava um sentinela no cimo das escadas). Outro momento de felicidade era receber um caderno novo (cheiroso, direitinho, impecável como todas as coisas novas) mas só depois do anterior ser escrutinado para confirmar a sua completa utilização.
O castigo vinha com os erros ortográficos ou de aritmética. A régua batia com força e democraticamente: a cada um aquilo que lhe cabia. Não havia excepções: o filho do professor era o menos poupado.
Alguns pais levavam uma galinha vermelha no Natal (criada com milho e em liberdade) e pediam:
-Sr Professor veja lá o meu rapaz, faça dele um homem.
E o Prof. via mesmo e escrutinava com mais cuidado o rebento dos generosos progenitores. A régua actuava mais vezes para fazer cumprir a promessa.
A fustigadela da dita (madeira exótica maciça) não era muito dolorosa, mas devia ter um qualquer efeito indirecto no cérebro: activava os neurónios e fomentava a formação das sinapses. Todos aprendiam apesar de alguns terem pouca vontade de o fazer.
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