A Dona Fernanda (Dona da sua vida pelo menos) aparece bastas vezes no pequeno restaurante onde costumo almoçar. O Restaurante tem sido um sucesso: a cozinheira atrai, pelos seus talentos culinários da Beira Interior, muita clientela. A simpatia, o asseio e a rapidez no serviço fazem o resto.
A Dona Fernanda é uma mulher sem pressa: caminha lentamente e não presta atenção a quem está ao seu redor. Ocupa uma mesa para duas pessoas e embrenha-se nos seus pensamentos. Escolhe com calma um prato entre quatro possíveis.
A Dona Fernanda é uma cliente muito exigente:
- Acha por vezes a sopa muito quente e outras muito fria, raramente a encontrando como gosta.
- A dose é quase sempre em grande quantidade segundo a sua perspectiva e a empregada leva para tirar o excesso;
- Encontra na comida ao contrário dos que a rodeiam, e na grande maioria das vezes, qualquer imperfeição: sal a mais ou a a menos, picante a mais ou a menos, etc. A cozinheira vem atendê-la e explica muitas vezes pedagogicamente que "usa receitas tradicionais", "não usa pimenta", "é assim que se faz";
- Às vezes põe tantos defeitos que até lhe trocam o menu por outro;- A sobremesa manda de volta para tirarem metade pois não pode consumir muitos doces.
Os proprietários são muito pacientes e dizem-me:
- Sabe, é da idade...coitada.
A Dona Fernanda deve ter mais de 85 anos e nesta idade os mimos não serão tão agradecidos e retribuídos como na infância, mas se calhar são justos e merecidos. De apreciar quem os dá (numa semana em que em 24h morreram 9 idosos na solidão) sem obrigação.
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