Já contei que a Florinda ficou choca e foi para casa da minha mãe onde pacientemente chocou 12 ovos de outras colegas. Após três semanas de esforço tirou um pinto que cuida com desvelo: salta para a pia da comida e esgravata com vigor a tentar que o rebento a imite. Ela sabe que ele terá que ser independente.
No outro dia desapareceu do logradouro a Carmelinda. Fiquei triste! Os bichos gostam de mim -sempre que levo a comida- e eu deles. Contei, uma, duas vezes, três ... nada. Que teria acontecido à Carmelinda?
Dormi mal. No dia seguinte de manhã avistei-a e fiquei contente. À noite já não estava outra vez e não lhe tinha dado autorização para noitadas. No dia seguinte percorri o espaço com muito cuidado e finalmente descobri-a. Debaixo de um arbusto e ocultada por umas ervas aí estava a galinha eremita em cima de uns sete ovos. Que teria eu feito para ela se isolar do mundo? Não falo de galinha de fricassé, não falo de frango de churrasco, não lhe mostrei a churrasqueira, não a obrigo a ver o Telejornal, não a levo para ver os debates Assis e Seguro! Que mais poderia traumatizar a Carmelinda? Descobri! Foi o cão que tinha entrado no espaço e lhes deu umas corridas uns dias antes.
Coloquei-a debaixo do braço e fiz-lhe psicoterapia: umas "tapinhas" na cabeça repetidas pela família toda, uma conversa tranquilizadora, garanti que o corte dos 50% do subsídio de Natal não teria impacto na ração e dei-lhe um restinho do arroz do almoço. Resultou em pleno. Agora anda assim... feliz.
É bonita, é esbelta, é elegante... tem classe. Ainda a verei numa mostra de alta costura a descer as escadarias da Trinitá dei Monti, em Roma, passeando todo o seu charme.
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