O sexo banalizou-se. Ter sexo significa pouco mais além de uma necessidade fisiológica prazenteira. Sai completamente grátis: pílula é grátis, pílula do dia seguinte pode ser grátis, preservativo é ir buscar ao autocarro ou à festa e, se tudo falhar, há ainda o aborto grátis. Sendo uma coisa grátis não se lhe dá valor, não se lhe vê utilidade e vale rigorosamente nada. O sexo como partilha íntima e exclusiva já não vale nada, as palavras e as promessas valem o mesmo: nada. Sendo oferecido tão generosamente por motivos fúteis cresce a desconfiança de quem se envolve, amedronta compromissos duradouros e aumenta a ligeireza na fuga à responsabilidade. O sexo é um motivo de busca incessante dia após dia sem um motivo deveras fundamentado.
Com a Universidade ocorre o mesmo. A Universidade tornou-se quase um direito adquirido. Entrar na Universidade é chique e a passagem por lá é quase obrigatória para evitar a dureza da vida cá fora mais uns anos. Esta peregrinação é especialmente prazenteira com muitas festas, muita bebida, muita farra e pouco empenho. E esta vida é tanto mais prazenteira quanto mais ricos forem os pais e sustentarem la "vie em rose" das suas crias pois as propinas são um pequeno custo lateral. A vida vai andando e mais exame, menos exame, mais trabalho menos trabalho, mais truque menos truque, mais ano menos ano (mas sempre prazenteiramente) as criaturas vêm-se com um canudo nas mãos que pouco vale, vontade de trabalhar no ponto mínimo e desconfiança do empregador no máximo. Os salários de 600 Euros são agora uma norma.
Quanto custa esta brincadeira ao contribuinte por ano? Estimo que mais de mil milhões! Chegou a altura de promover a igualdade no acesso à Universidade: um sistema de empréstimos igual para todos e o pagamento integral dos custos por quem beneficia. Um contrato assinado com direitos e obrigações que mostre claramente o custo real do serviço a um bom corpinho para trabalhar e cumprir horários. O menino tem pai rico que lhe quer pagar? Pois o pai que pague e exija resultados! O pai não pode? O jovem pode mesmo assim estudar pois as bolsas nem sempre são suficientes: alguns talentos ficam de fora ou as famílias sofrem.
2 comentários:
Lá pelo meu projecto de blogue já sustentei que:
"As propinas nas Universidades passarem a ser pagas em função do custo efectivo de cada curso, sendo que os alunos de 20 valores estão isentos, os de 19 valores pagam 10%, os de 18 valores pagam 20%, os de 17 valores pagam 30% (…) os de 14 valores pagam 60% (…) e os de 10 valores pagam 100% das propinas. A questão das propinas fica indexada ao mérito académico. Questão diferente é a acção Social Escolar que deve garantir apoios em residência e alimentação a quem necessite em função dos rendimentos familiares. Neste particular far-se-ia a justiça social. Mas nas notas, quem mais estuda e mais resultados tem, menos paga. E quem anda a passear os livros para ter notas de 10, ou é rico para sustentar essa vida ou então vá fazer outra coisa, que o curso superior é capaz de não ser a sua vocação."
Ou um outro sistema parecido em que o 17 já conferisse direito a isenção de propinas naquela cadeira, sendo que os valores a mais de 17 poderiam ser levados a crédito a descontar noutras cadeiras em que a nota fosse inferior a 17.
Enfim, indexar o custo do Ensino Superior ao mérito académico aferido cadeira a cadeira. E assumir que a sociedade, no seu todo, tem vantagens em sustentar pelos impostos a isenção dos melhores alunos, pois estes, em princípio, serão mais úteis à sociedade no futuro próximo.
(Eu trabalhei de noite para pagar as minhas propinas e na época nem sequer havia estatuto de trabalhador estudante. Falo, por isso, com alguma autoridade moral sobre esta matéria pois eu paguei propinas ao custo do mercado)
Exagerei um pouco no meu post. De facto concordo consigo: acho que se deveria premiar o desempenho e exonerar de uma carga pesada quem merece.
No meu tempo entrar na Universidade era uma honra e uma carga de responsabilidades: agora é o mero prolongamento juvenil do Liceu.
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