julho 19, 2009

Energias renováveis... Fotovoltaico e o Conto do Vigário

Uma campanha agressiva com outdoors enormes e anúncios nos média mete olhos adentro da população a ideia que o Sol quando nasce é para todos: da bisavó Marcolina ao netinho Zézinho, do Minho ao Algarve. Basta colocar painéis solares e é só poupar até 20%: a galinha dos ovos de ouro em cima do telhado. Poderá ser o Sol de todos mas não para produzir energia a preços aceitáveis ainda.

Senão vejamos:
Consultando http://re.jrc.ec.europa.eu/pvgis/cmaps/eu_opt/pvgis_solar_optimum_PT.png vemos que a irradiação média anual em Portugal será da ordem de 1900KWh/m2. O rendimento do painel fotovoltaico é da ordem de 14% e um alinhamento não óptimo perderá cerca de 15%. Podemos gerar então 1900*0.14*0.85=226kWh por m2 num ano que corresponde a uma poupança de 226*0,11Euro=24.86Euro por ano!!

Um m2 de painel fotovoltaico custa 500Euros ou seja ficará pago ao fim de 20 anos, repito ...20 anos a menos que se venda a energia a preço preferencial mas o diferencial vai sair do bolso de todos. Repare-se que não está incluída manutenção, preço do inversor, vistoria ou licença. A visita de um técnico pode custar a produção de um ano.

Quem faz um investimento deste tipo para o amortizar ao fim de 20anos?

6 comentários:

Alexandre disse...

Olá Lura,

Escrevo do Brasil.

A tecnologia solar ainda é cara aos custos de hoje, mas cada vez mais se torna necessário levar em conta os custos ambientais decorrentes de cada forma de conversão de fontes energéticas em eletricidade.

Em sua análise, faltou considerar essas externalidades, que atualmente são bem altas, pois estamos num processo perigoso de aquecimento global, com graves consequências.

O custo da geração por combustíveis fósseis, e mesmo pela energia nuclear, é BEM maior do que unicamente o custo do combustível e dos equipamentos.

São as externalidades (custos ambientais e outros) que justificam a necessidade urgente de se investir tanto no aproveitamento da energia solar quanto de outras fontes renováveis não-fósseis e menos poluentes.

Mas mesmo se desconsiderando o custo ambiental, na análise econômica precisa ser levado em conta o aumento anual na tarifa paga pelos consumidores pela energia que consomem. O custo desta tarifa com certeza será bem superior aos 0,11 Euros/kWh considerados, ao longo dos 20 anos considerados. Em sua cidade o aumento anual da tarifa de energia elétrica tem sido de quanto nos últimos dez anos? Nos próximos será bem maior este aumento.

A redução anual nos custos da tecnologia fotovoltaica tem ficado por volta de 5% nos últimos anos, mas isso só foi possível por haver programas agressivos de investimento nesse setor em diversos países, principalmente Alemanha e Espanha. Além do benefício ambiental, as tecnologias solar e eólica geram muito mais empregos do que as demais formas de geração. Esse é outro ponto importante a ser considerado pelas políticas energéticas de um país.

Um outro problema na análise é que o rendimento de 14% é para quando o módulo está submetido a 1000W/m2 e a célula está a 25 graus Celsius. Quando opera no ambiente externo, o rendimento sofre perdas em função da variação do nível de irradiação solar e da temperatura de operação ao longo do dia e dos meses.

Para verificar o custo efetivo da energia gerada você teria que ver com algum fabricante ou universidade daí qual o Yield médio anual(kWh_elétrico_gerado/kWp/ano) para sistemas fotovoltaicos efetivamente em operação em Portugal. A geração com certeza será menor do que 226kWh/ano, o que implicará em aumento no custo da energia solar.

O fator de 15% é comumente usado e inclui também as perdas nos inversores e outras perdas elétricas inerentes do sistema (cabeamento, conexões etc), mas estas perdas (de conversão e de orientação dos módulos) já estarão incluídas no valor de Yield que lhe informarem. Esse fator deve ser então desconsiderado na análise pelo Yield.

O custo de 500 euros/m2 acredito que já seja o preço médio para sistemas de até 100kWp, incluindo todos os componentes, pois no fim de 2008 esse custo médio na Alemanha já era de 4216 euros/kWp. (Qual a fonte desse valor? Tenho interesse em saber dos valores praticados em Portugal.)

Mesmo não sendo só os custos diretos que importam na análise, se você puder obter os valores de aumento do custo anual de energia daí para os últimos dez anos, e o Yield médio, tenho interesse em saber como ficaria sua análise.

Sou responsável pelo blog da ISES DO BRASIL:
http://ises-do-brasil.blogspot.com/

Se trata principalmente de um blog de clipagem de notícias, mas eventualmente escrevo comentários também, como recentemente fiz quanto à energia nuclear.

Caso tenha interesse em dar uma olhada, seus comentários serão bem vindos nas nossas postagens também.

Abraço,
Alexandre

Lura do Grilo disse...

Caro Alexandre

Obrigado pelo seu longo comentário. Não sou especialista mas tenho uma razoável perspectiva da área.

A energia pode vir a custar mais: pode mas se guardasse o dinheiro no banco a render também a poderia pagar um pouco mais cara. O meu ponto de vista é o seguinte:
- Não está provado o aquecimento global;
- Está provado que o Petróleo é limitado;
- Não vale a pena investir em tecnologias imaturas. Por exemplo não vale a pena comprar um computador portátil com o último CPU e a placa gráfica mais recente;
- Atribuir subsídios a energias renováveis com estes custos é retirar recursos a outros sectores da economia; (Veja um publicação do Instituto Juan de Mariana que mostra até haver perda de emprego com energias renováveis)
- O custo de produção de um painel fotovoltaico exige cinco anos da energia que vai produzir;
- O material dos fotovoltaicos também tem componentes perigosos.

Sou um ecologista muito aplicado... mas isto do fotovoltaico só me convenceria com redução de preços dos painéis para menos de metade. Painel solar térmico ... isso sim vale a pena.

Visitarei com certeza o seu blog.

Alexandre Montenegro disse...

Olá Lura,

Teria como mandar o link da publicação do Instituto Juan de Mariana? Fiquei interessado, pois todos os artigos que li informam que a geração de empregos com renováveis é bem maior do que com outras formas de conversão para eletricidade. Esse instituto é financiado pelo governo português?

Abraço,
Alexandre

Lura do Grilo disse...

http://www.juandemariana.org/pdf/090327-employment-public-aid-renewable.pdf

Abraço

Lura do Grilo disse...

Trata-se de um Estudo de uma universidade e fundação espanhola. O documento já foi discutido em altas instâncias nos EUA e outros países.

Lucas disse...

Justo o que procurava sobre energia solar