À hora de almoço caminho quase 2km para comer num pequeno restaurante: cozinha esmerada, serviço ligeiro e preço convidativo. Uma sopa, uma bebida, um prato e café apenas por seis euros. Sento-me de costas para um rectângulo LCD que debita parvoíces de manhã à noite e deixa saudades à mira técnica.
Uma senhora seguramente na casa dos 80, bem vestida sem ser pretensiosa, pele delicada, senta-se na mesa à minha frente. Talvez uma das últimas donas de casa, professora reformada .. não sei. Não terá passado pela inclemência do Sol muitos dias. Entra, passados dez minutos, um jovem que se coloca por trás e a abraça. Escorrega devagar e com prazer a cara pela face da senhora. Beija-a com gosto repetidas vezes entre o queixo e a orelha. Por fim senta-se e manda vir a sua refeição. O resto do tempo foi passado em amena e apaixonada cavaqueira.
Levantei-me para pagar a conta e comentei com o proprietário:
- Muita ternura naquela mesa!!
- Sim .. é uma avó e o seu neto. São muito amigos .. dá gosto ver.
A sabedoria da 3ª idade, a delicadeza e a imensa paciência conseguem furar as barreiras que se colocam frequentemente entre filhos e pais. A relativização das pequenas frustrações do não ter (o telemóvel sofisticado, a roupa de marca, etc) torna-se mais possível e a convivência com outras formas de olhar o mundo ajuda-os a progredir. Um dia saberão respeitar a velhice dos seus pais e receber a sua própria velhice com naturalidade.Já agora ... acho boa ideia, de vez em quando, mandar estes estuporzinhos (que sabem mais que os pais a partir do 6ºano de escolaridade), para casa dos avós vários dias seguidos.Ufa ...
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