outubro 07, 2012

A hierarquia, o respeito e o insulto

A linguagem torpe e ordinária de Mário Nogueira, professor sem aulas vai para mais de 20 anos, para o seu superior hierárquico Nuno Crato é repugnante; um bullying sindical. O Estado não deve financiar propaganda partidária pelo facto do mensageiro ser apenas sindicalista. Os professores arriscam-se a ser igualmente desrespeitados pelos seus alunos. A decomposição da estrutura hierárquica na Escola, na Família e nas Instituições tem um preço social elevado.

Já aqui abordei o assunto. Quando era pequeno o meu Prof era um Deus: eu temia-o mas parte do meu respeito era por o ver como sabedor.
  • Ele estava em cima de um estrado que era a sua área reservada. Tinha uma vista soberba da sala como um senhor do cimo do seu castelo. Pisar aquela área era uma aventura.
  • Ele tinha uma secretária enorme, com gavetas onde guardava coisas misteriosas (uma era a palmatória), que eu sonhava ter.
  • Ele tinha a chave do armário onde se guardavam cadernos de 2 linhas que recebíamos da Caixa Escolar após esgotar completamente o caderno anterior. Ele espreitava cada página para confirmar o uso do caderno. O caderno novo era tão cheiroso, tão perfeito que nem apetecia iniciar.
  • Ele tinha o poder de chamar os pais quando nos excedíamos ou não cumpríamos. Era melhor que não o fizesse: uma reguada era preferível.
  • Ele deitava uma olhada ao recreio.
  • Era tratado por Sr. Professor por rapazes, empregadas e pais: todas as sílabas eram pronunciadas com rigor.
  • Ele era fiscalizado e, aprumadinho, apresentava com orgulho a sua turma ao Sr inspector. O Sr Inspector revistava os materiais e tratavam-se por Sr Professor e Sr Inspector. Percebíamos que havia alguém a quem ele tinha que prestar contas como nós tínhamos a ele. 
Um dia fomos a casa dele e tudo era um sonho: era uma casa pobre e pequena para uma família de 4 pessoas. Mas tudo me chamou a atenção: os livros, as roupas, a secretária e os filhos. Já deve ter morrido mas recordo-o muitas vezes.

Pensei: um dia serei como ele ou como o inspector. Terei uma secretária grande, serei chamado de Sr Professor, subirei ao estrado, terei giz à vontade para escrever e irei conseguir acender o fogão de lenha no canto da sala. 

Hoje desapareceu o estrado, a secretária grande, o título do Prof é sôtor, sossor, muitas vezes é tratado apenas pelo nome e tem sempre algum receio de chamar os pais. É insultado por pais e alunos.

Entramos numa repartição pública e os trabalhadores tratam o chefe do serviço com um igual : "Oh, Pires anda cá que és o chefe".

Não vale a pena trabalhar para ganharmos reconhecimento: já somos iguais.



1 comentário:

Anónimo disse...

É como a figura do polícia. Autoridade cada vez menos. Ou nula mesmo.