outubro 24, 2012

Emigrante rico e emigrante pobre

Aí, o rapaz do campo acomodava devagar, debaixo do assento, o seu saco de chita e o farnel, passou depois o lenço pela testa como para limpar o suor, e, muito pálido, com os beiços a tremer:
— Adeus, mãe! — disse.
A velha abraçou-se-lhe desesperadamente ao pescoço:
— Meu filho! meu rico filho, que não te torno a ver! Oh! meu filho, oh! Senhor, que não o torno a ver!
— Adeus, mãe! Adeus, Joaquina! Tem de ser, tem de ser!
Beijou violentamente a velha na face, apertou nos braços a rapariga, saltou para o vagão e ficou com a cabeça enterrada nos punhos, aos soluços.

Eça, em A Capital


A partida dos enfermeiros portugueses para Inglaterra com as habituais frases de circunstância, guarda de honra jornalística e o lançamento de culpas ao Presidente da República - o bombo da festa dos tolos- fez parágrafos de Jornal e comoções em corações moles. É sempre desagradável partir!

Mas partem com um emprego, com alojamento, bem artilhados com um curso que custou ao Estado cerca de 30 000 Euros e em duas horas mais uns trocos estão a comer fish and chips e a beber uma cerveja no Intrepid Fox (para quem gostar do ambiente). Pelo preço de uma ida e volta Lisboa-Porto e noutro tanto tempo estão de volta numa sexta à noite para comer umas pataniscas e regressar no Domingo ao entardecer com uns pastelinhos de Belém no bolso. Pelo meio muito Skype!

Emigração foi a que o meu pai fez depois de dormir anos a fio num monte de feno e ter experimentado as melhores refeições da vida no quartel durante o serviço militar. Partir de barco, viajar mais de três semanas, chegar sem emprego, viver em contentores, trabalhar sob um sol cruel e andar sempre a evitar a Polícia embora legalizado. O regresso? Sempre adiado e intervalado de 5 em 5 anos.

Um tremendo negócio para o Estado estes velhos emigrantes sem queixumes: um Estado que nada deu e sempre recebeu as abençoadas "receitas dos emigrantes".

1 comentário:

Anónimo disse...

E ainda se queixam. Pelo menos vão lá para fora desempenhar algo da sua área. Se fossem trabalhar para as obras seria pior... mas desses emigrantes portugueses não falam.